2013 - Alberto/Denis/Jefferson/Larissa/Sarah

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP








Atividades Praticas Supervisionadas
Os Sapos – Manuel Bandeira





Alberto Nagatani Leite – RA A833IB-2
Denis Diego Martins – RA A7949G-1
Jefferson Lacerda de Oliveira – RA B0465G-0
Larissa Andréa da Silva – RA B05736-0
Sara Pedroso de Lima – RA T120HC-O
Os sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
La







CONTEXTO DE PRODUÇÃO E ANALISE
No início da Semana da Arte Moderna, um grupo de artistas que sentiam a necessidade de abandonar os antigos valores clássicos, sobretudo, a estética antiga confrontaram os valores parnasianos que se fundamentavam na valorização da estética e da perfeição. A proposta deste grupo de artista era dar liberdade aos poetas, escultores, pintores e músicos, a fim de que arte brasileira não buscasse modelos estrangeiros, mas sim, valorizasse a própria cultura brasileira. Além disso, a Semana da Arte Moderna propunha o esclarecimento da identidade nacional, bem como, o reconhecimento da liberdade de expressão.

Com o intuito de provocar o estilo parnasiano, na época a escola literária que fazia o gosto dos brasileiros, é feita a leitura do poema de Manuel Bandeira que obviamente foi criticada ferrenhamente pelo público. O texto inicia-se com uma referência do poeta à vaidade dos parnasianos quando cita a palavra “enfunando” que tem o mesmo sentido de “encher-se”, “inflar-se”, no entanto, neste texto o significado mais cabível seria o “enfunar-se” de orgulho, de vaidade.

Ao longo do poema, o eu-lírico constrói a crítica ao parnasiano e a sua estética,

” Diz: – Meu cancioneiro
É bem martelado. “

E ironiza o modo perfeito de se fazer arte.

“Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.”

No trecho acima o poeta faz um zombaria com o primor que os parnasianos têm em compor rimas, inclusive, em rimar termos cognatos, ou seja, termos que possuem a mesma classe gramatical já que para o parnasiano rimar termos cognatos não é sinônimo de sofisticação, pois as rimas não são consideradas ricas.

Além de ressaltar a estética parnasiana de forma sarcástica,

“Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.”

Manuel Bandeira também faz uma alusão irônica aos poemas que valorizam a descrição dos objetos e da escultura clássica.

“Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,
Canta no martelo”.


Exemplos de poesia parnasianas que mantêm esta valorização dos objetos clássicos são “Profissão de fé”, de Olavo Bilac e “Vaso Grego”, de Alberto Oliveira. Seguem alguns trechos:

(…)

“Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.”

(“Profissão de fé“)

(…)

“Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de os deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.”

(…)

 (“Vaso Grego”)

Além do conteúdo temático, o poeta faz algumas construções estruturais que dão sentido ao tema. Uma destas construções é o uso de aliterações em “p” e “b” e as assonâncias em “u” e “a” que remetem o som do pulo dos sapos, assim como, o jogo de palavras em ” Não foi! – Foi! – Não foi!” que faz analogia ao coaxar dos sapos.

Entretanto, o poeta moderno não utiliza a forma como meio de compor o tema, mas também, como forma de compor a ironia temática presente no texto. Por exemplo, a composição de todos os versos com a mesma métrica (cinco sílabas) faz parte da proposta parnasiana. No entanto, o poema é criado em redondilhas menores, isto é, a forma mais simples de se compor as sílabas poéticas, o que para os parnasianos é inaceitável, já que eles louvavam a sofisticação e não a simplicidade.

Outro aspecto estrutural que zomba dos aspectos requintados da escola parnasiana é uso das quadras ou quartetos, formas consideradas populares, contrastando, desse modo, com as formas sofisticadas, tais como, o soneto que é muito prezado no parnasianismo.

Esta popularidade da quadra se torna mais evidente na última estrofe cujos últimos versos fazem alusão a uma cantiga popular brasileira.

“ Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…”

Logo, o poema “Os sapos” faz uma crítica contundente ao parnasianismo de modo irônico e sarcástico, valendo-se do tema e da própria forma poética na construção poética.


Vocabulário

Enfunando: inchando
Penumbra: escuridão
Deslumbra: ofusca, perturba a vista
Aterra: dá medo
Primo: sou hábil
Termos  cognatos: palavras de origem comum. Ex: terreno, terreiro, terra.
Frumento: trigo
Joio: erva daninha que cresce no meio do trigo
Clame grite
Céticas: descrentes
Perau: substantivo masculino
1    Regionalismo: Rio Grande do Sul.
     declive que dá para um rio ou arroio
2    Regionalismo: Brasil.
     lugar íngreme, escarpado; precipício

Comentários sobre Os sapos

3º verso: os sapos: No 1º Tempo Modernista, o uso do poema-piada visando desmoralizar o academismo, a retórica melosa e o preciosismo vocabular é uma das tendências predominantes.
9º verso: tanoeiro: Referência sutil a Olavo Bilac, um dos medalhões da poesia brasileira que cultua a forma, a palavra esnobe, a métrica rigorosa e a rima rica ou rara.
Tanoeiro perereca (sapo comum)
20º verso: apoio: consoante de apoio: é o nome que se dá à consoante que forma sílaba com ultima vogal tônica de um verso. Exemplos no próprio texto: joio, apoio.
24º verso: forma: O empenho dos parnasianos em esculpir o verso era tal, que acabaram determinando um receituário de artesanato poético, onde a forma (ó aberta) se transforma em forma (ô fechado)
35º verso: joalheiro: Alusão direta à "Profissão de Fé", onde Bilac compara a função do poeta à de um ourives-joalheiro.
Penúltimo verso: cururu: O sapo autêntico, verdadeiro, sem empostação acadêmica, destituído de verborréia.

SOBRE O AUTOR

O recifense Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Em 1903, transferiu-se para São Paulo, onde iniciou o curso de engenharia na Escola Politécnica da USP (queria ser arquiteto, curso então ligado à escola de engenharia). No ano seguinte, abandonou os estudos por causa da tuberculose e retornou para o Rio, onde escreveu poesia e prosa, fez crítica literária e deu aulas na Faculdade Nacional de Filosofia. Por causa da doença, passou longos períodos em estações climáticas no Brasil e na Europa. Entre 1916 e 1920, perdeu a mãe, a irmã e o pai.

Em 1917, publicou "A Cinza das Horas", de nítida influência parnasiana e simbolista. Dois anos depois, lançou "Carnaval", fazendo uso do verso livre. Já se mostrava um dos precursores da linha modernista, e Mário de Andrade o chamaria de "São João Batista do modernismo brasileiro". Apesar disso, em 1922, por não concordar com a intensidade dos ataques feitos aos parnasianos e simbolistas, não participou diretamente da Semana de Arte Moderna (nem sequer viajou para São Paulo).

No entanto, seu poema "Os Sapos", lido por Ronald de Carvalho na segunda noite do acontecimento, provocou muitas reações. Nele, Bandeira se vale mais uma vez do verso livre, principal característica de sua obra:

"Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos./ A luz os deslumbra./ Em ronco que aterra,/ Berra o sapo-boi:/ 'Meu pai foi à guerra!'/ 'Não foi!' - 'Foi!' - 'Não foi!'"

Com "O Ritmo Dissoluto" (1924) e "Libertinagem" (1930), temos um poeta totalmente integrado no espírito modernista. "Libertinagem" apresenta alguns poemas fundamentais para entender a poesia de Bandeira: "Vou-me embora pra Pasárgada", "Poética", "Evocação do Recife" e outros. Aparecem ali seus grandes temas: a família, a morte, a infância no Recife, os indivíduos que compõem as camadas mais baixas da sociedade.

Apesar dos amigos e das reuniões na Academia Brasileira de Letras (para a qual foi eleito em 1940), Bandeira viveu solitariamente. Mesmo sendo um apaixonado pelas mulheres, nunca casou: dizia que "perdeu a vez".

Morreu aos 82 anos, de parada cardíaca - e não de tuberculose, a doença que o acompanhara durante parte tão grande de sua vida.

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