sexta-feira, 7 de junho de 2013

Análise do Poema de Sete Faces de Carlos Drummond de Andrade








UNIP
UNIVERSIDADE PAULISTA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
JUNHO DE 2013


Adriana Ferreira- RA:B0357C-0
Erika Viana- RA: B15IHH- 6
Regina Claudia Kanemoto- RA: B0395C- 0

Renata dos S. Oliveira - RA: A8091J-5


   “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício
 da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos 
do sofrimento, perdemos também a felicidade.”

Carlos Drummond de Andrade




O MODERNISMO NO BRASIL E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Análise do poema de sete faces


                                      

Para uma melhor análise de qualquer texto é necessário que saibamos os antecedentes históricos, do país, do autor e o que ocorria no mundo durante o período em que o texto foi escrito. Portanto para analisar e compreender as obras de Carlos Drummond de Andrade, devemos nos questionar: o que o levou a escrever ? De qual ou quais movimentos literários ele participou? A partir daí poderemos compreender suas obras, ou de outros autores.





CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987)


         Drummond nasceu em Itabira- MG, mudou-se para Belo Horizonte onde estudou Farmácia. Durante seus estudos participou de movimentos modernistas. Em 1925 foi co- fundador de A Revista, em 1930 publicou sua primeira obra “Alguma Poesia” um marco para a segunda fase do Modernismo. Em 1933 mudou-se para o Rio de Janeiro, simpatiza com movimentos socialistas e escreve para jornais, até sua morte em 1987.






 PRÉ-MODERNISMO

         O Modernismo, ou melhor o pré-modernismo, influenciado pelas vanguardas européias, foi um momento de transição, de libertação das tradições literárias, anteriores. Os pré-modernistas, buscavam mostrar aos brasileiros que eles estavam alienados às questões sociais, até que em 1922 durante a Semana de Arte Moderna , inicia-se a fase Heróica, rompendo com o passado e tendo como precursores, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
            As obras expostas, e os textos lidos não foram muito bem aceitos, os jornais da época criticaram os artistas, porém, em vez de se sentirem, ofendidos, os artistas alcançaram seus objetivos. Chocar a sociedade.






ROMANCE DE 30

A segunda fase do Modernismo (1930-1945) ou Romance de 30, é conhecida também como a fase da consolidação, das conquistas da geração anterior esta segunda fase se divide em dois grupos: Prosa: representados por José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado.e a Poesia: representado por Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade.  
 Segundo CEREJA E MAGALHÃES, 2010.p.142 Unindo ideologia, análise sociológica e psicológica as novas técnicas narrativas o romance de 30 constitui um dos melhores momentos da ficção brasileira. O modernismo foi caracterizado, no campo da poesia, pelo amadurecimento e pela ampliação das conquistas dos primeiros modernistas.“É difícil generalizar quando se fala do Romance de 30 porque não foi um movimento literário organizado em torno de balizas rigorosas. A poesia modernista se consolida e alarga seus horizontes temáticos. As ousadias, por vezes excessivas, da geração de 1922 vão se abrandando tem-se então um Período extremamente rico tanto em termos de produção poética quanto de prosa.
Este período é marcado por conflitos internos e momentos históricos que modificaram a historia mundial: queda da bolsa de Nova Iorque (1929), Crise Cafeeira (década de 30), inicia do Nazifascismo (1932), Revolução de 30 (1930), Revolução Constitucionalista de 32 (09/07/1932).
Todos estes acontecimentos exigiram um amadurecimento e uma nova postura por parte, destes artistas, diante da realidade.O romance brasileiro de então, encontrando no regionalismo uma de suas principais vertentes, ganha matizes ideológicas e se transforma num importante instrumento de análise e denúncia da realidade brasileira.No aspecto formal, o verso livre foi o melhor recurso para exprimir sensibilidade do novo tempo.Era isso que Drummond buscava quando disse que seria gauche (torto) na vida. Ele iria observar os acontecimentos da época a sua maneira.
Drummond apresenta suas obras, características marcantes do modernismo e ao mesmo tempo, os conflitos que o Brasil vivia durante esse período. Suas obras são marcadas pela ironia, o humor e a linguagem coloquial. A vontade do poeta de participar e tentar transformar o mundo, as reflexões sobre a vida e a morte e as recordações do poeta. As poesias de Carlos Drummond possuem características próprias como a abordagem do: indivíduo: "um eu todo retorcido,da terra natal, a família, os Amigos,o choque Social, o amor, a Poesia e a reflexão existencial. Drummond carregava os sentimentos advindos do Modernismo, não só nesta obra, mas nas demais é possível notar "um eu todo retorcido", as lembranças de sua terra natal, a família, amigos, o choque social, amor e os jogos com as palavras.Sentimentos, estes que vieram da necessidade do patriotismo, de se livrar das regras ditadas, pelas escolas literárias anteriores, de lutar por uma liberdade literária, em meios a golpes de estado, guerras e revoluções... Drummond se deslocava, procurava conhecer o mundo e mantinha seu olhar atento aos acontecimentos fossem eles em Itabira ou às margens do Rio da Volga na Rússia.








POEMA DE SETE FACES


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.


As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.


O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.


Mundo, mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo, mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.




Poema de sete faces declamado na voz de Paulo Autran





fonte: https://www.youtube.com/watch?v=CtcXepjGeaU



ANÁLISE


Publicado em seu primeiro livro, Alguma poesia, de 1930, no Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade, o poeta aborda assuntos como o desejo sexual desenfreado dos homens, questiona sobre o seu próprio eu e faz uma cobrança a Deus. Através de metáforas ele revela a sua visão desesperançada diante da vida e do mundo.
O título “sete faces” representa as sete estrofes trabalhadas no poema, que tem um perfil autobiográfico, algo que o autor evidencia já na primeira estrofe quando fala em 1ª pessoa e utiliza seu próprio nome.
“Nas estrofes seguintes ele revela seu deslocamento diante da vida,na 5ª estrofe por exemplo ele questiona Deus,e até nos remete a uma passagem bíblica em que Jesus no momento de sua crucificação diz”: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”Existe uma semelhança entre ambos quanto ao relacionamento com o mundo,ambos se sentem vitimas ,porém o poeta sabe que diferentemente de Cristo,ele não é Deus e sim um gauche (desajeitado,estranho) como o anjo disse em seu nascimento.
O poema mostra o deslocamento do poeta diante da vida,como ele se via desajustado perante esse mundo,que para ele só não era mais vasto que nós,seres humanos,na 6ª estrofe o poeta confronta-se com a realidade exterior,o vasto mundo do qual somos uma pequena parcela e no qual estamos mergulhados, estamos diante da afirmação que nosso ser é mais vasto que o mundo.






TRANSIÇÃO PARA A TERCEIRA FASE


Em 1945, Carlos Drummond de Andrade publica, o poema intitulado "Nosso tempo", que revela o estado de ânimo da parcela mais consciente da sociedade.

Nosso Tempo (fragmento)

I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II
Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III
E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
Crimes?
Moedas?
...











BIBLIOGRAFIA:
AMARAL (et. al) Português: Novas Palavras: literatura, gramática, redação, São Paulo: FTD, 2000.
ANDRADE, Carlos Drummond de, 1902-1987 José e Outros, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Best Seller,2006.
CEREJA, W R, MAGALHÃES, Português Linguagens, 7ª Ed. São Paulo: Saraiva,2010.
CHAVES, Rita margens do texto- Carlos Drummond de Andrade, São Paulo: Scipione, 2003.




MATERIAL DE PESQUISA

— Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/literatura/poesiamoderna/poesiamoderna_1.html acessado em 02/06/2013 as 18:32
— Disponível em: http://www.slideshare.net/eeadolpho/segunda-fase-do-modernismo-no-brasil acessado em 02/06/2013 as 20:47
— Disponível em: http://profaclaudiacem804.webnode.com.br/news/modernismo-romance-de-30/  acessado em 25/05/2013 as 18:07
— Disponível em: http://www.infoescola.com/literatura/carlos-drummond-de-andrade/  acessado em 25/05/2013 as 18:49
— Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/drummond/ acessado em 04/06/2013 as 11:00

Um comentário:

  1. Sou uma fã de Drummond, gostei muito do post e o Poema de sete faces' é o meu poema preferido :)

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